Expressões parvas usadas pelos portugueses #2

língua portuguesa fevereiro 19, 2018
Já ninguém se lembra do primeiro volume deste maravilhoso post mas desde aí que tenho pensado a apontado mais expressões ridiculamente parvas. Muitas das que se seguem foram usadas por mim ontem, enquanto via o Festival da Canção.

Encher chouriços

Define-se como "aquilo que a RTP faz todos os anos entre o fim das músicas a concurso e o início da revelação das votações". No fundo são duas horas (ou mais) em que nada de relevante se passa. Mas agora façamos o exercício de pensar na primeira pessoa que usou esta expressão. Eu teria olhado de lado, mas a verdade é que a moda pegou.

Obra prima

É o verso "quem coala consente" da música "Austrália" que acabou com uns belos zero pontos ontem à noite. Sucede que isto se refere a um estatuto demasiado bom para que eu o possa associar a qualquer uma das minhas primas (e é possível que uma ou outra estejam a ler isto e tal não abone a meu favor). Da perspectiva delas acaba por fazer sentido.

Vira o disco e toca o mesmo

Disse a minha mãe antes de adormecer depois de ver metade das músicas. A questão é que os discos têm músicas diferentes. A menos que estejamos a falar do Tony Carreira que faz carreira há anos sempre a cantar a mesma música.

Abanar o capacete

Esta não me ocorreu durante o Festival da Canção porque era efectivamente impossível realizar tal acção durante o mesmo. Ainda assim, gostaria de ter visto alguém a abanar um capacete. Literalmente.

Lavar roupa suja

Há gente que faz mais disto no sentido figurado do que no sentido literal.

Fazer com uma perna às costas

"Os 100 metros em menos de 10 segundos? Faço com uma perna às costas!". Já ouvi uma pessoa a dizer isto e gostava de ter visto.

Fazer uma tempestade em copo de água

É difícil, a menos que sejamos formigas. Deixo aqui também uma menção honrosa para a referência a "copo de água" como uma parte de um casamento onde ninguém bebe sequer água.

Estar com a pulga atrás da orelha

Já estive curiosa e, curiosamente, nunca tive nenhuma pulga atrás de nenhuma das minhas orelhas. 

Estou-me a passar

A ferro? É incrível a quantidade de vezes que me passo sem passar praticamente nada do que visto a ferro.

Tirar o cavalinho da chuva

Para quê dizer "esquece lá isso" quando podemos simplesmente pedir a alguém que vá tirar um cavalo inexistente da chuva num dia de sol? Deve ser maravilhoso para um estrangeiro a aprender português ouvir isto.

Sou consumidora e nunca escolhi nada

fevereiro 15, 2018
Não sei se alguma vez repararam na quantidade de produtos e serviços com o selo de "escolha do consumidor". São sensivelmente menos que os livros apelidados de "Best seller do New York Times" e que os prémios de turismo ganhos por Portugal nos últimos dois anos mas, ainda assim, uma quantidade generosa.

Como sabem, tenho por hábito pesquisar sobre os grandes temas, e não podia deixar este de lado. Ao todo há 123 marcas premiadas com a "escolha do consumidor 2018". Sucede que ainda estamos a meio de fevereiro e era de esperar que tamanho galardão fosse atribuído depois de o consumidor consumisse efectivamente o produto. Não. Conhecendo os portugueses, se não se tratasse disto já, só lá para 2023 é que tínhamos os resultados deste ano. 

Entre estas escolhas de consumidores que eu não conheço estão, por exemplo, a Renascença e a RFM. Podia jurar que dar a mesma distinção a duas rádios é estúpido, mas entretanto reparei que um dos pontos positivos citados pelos consumidores em relação à RFM é a "qualidade da música" portanto terei de rever o meu conceito de estupidez. 

É escusado dizer que como este exemplo que dei das rádios, há outros tantos portanto fica aqui a dica: quando todas as marcas têm a mesma designação, ela deixa de valer o que quer que seja. Agora vejam lá se fazer um focus group para blogues e deixem que as mesmas pessoas que avaliaram a RFM façam o mesmo com o meu blogue para me considerarem produtora de "conteúdo de qualidade".

Coisas que deviam ser testadas no exame de condução

fevereiro 09, 2018
Há variadíssimas pessoas que conduzem sem terem qualquer tipo de aptidão para a coisa. Eu sou uma delas. Mas, pior do que isso, são pessoas que até conduzem bem mas são incapazes de seguir as regras de bom senso da vida em sociedade e isto ninguém lhes ensina. 20 e tal aulas de condução e andamos a perder tempo a contornar passeios em vez de darmos importância às coisas relevantes para o dia-a-dia.

Uma das coisas que devia dar chumbo é o estacionamento adiantado. E o que é isto? É a coisa mais irritante da história das coisas irritantes. Imaginem o parque de estacionamento de um shopping nos dias antes do natal. Estão às voltas há 30 minutos e ao longe observam um lugar. Apressam-se para serem os primeiros a chegar e, à medida que se aproximam, percebem que afinal foi só alguém que se chegou em demasia para a frente. A temática do estacionamento dava para um dia inteiro e portanto vou deixar para outra altura as minhas opiniões nada favoráveis sobre quem estaciona em 2ª mão e quem ocupa dois lugares.

E aquelas pessoas que ouvem música aos altos berros e acham que nós também queremos ouvir aqueles reggaetons e aqueles kizombas foleiros? Não queremos. Ter mau gosto musical e tentar impigi-lo aos humanos normais devia dar chumbo.

Sabem o que é que é testado mas não é bem? Piscas. Há um determinado número de vezes em que podemos ignorar os piscas sem chumbar. Como em quase tudo na vida, quando se fala de piscas não é a quantidade mas sim a qualidade que importa. Eu não vou meter o pisca se não há ninguém na estrada mas não faço o mesmo se estou para sair numa rotunda e há meia dúzia de pessoas à espera para entrar.

Um dos grandes flagelos das estradas portuguesas é o pára-arranca. Os portugueses gostam tanto disto que o fazem nos semáforos. Que atire a primeira pedra quem nunca parou num semáforo e, daí a dois segundos, o carro da frente decide avançar 10 centímetros. Porquê pessoas? Sabem que o semáforo não vai mudar de cor mais rápido por o estarem a pressionar, certo?

E aqueles otários que passam por cima de poças enormes de água quando há pessoas no passeio e ainda se riem depois de as molharem? É um problema sazonal, eu sei, mas não tem piada. Nenhuma. A menos que fossem eles no passeio e eu no carro.

Questões que assolam a humanidade #24

questões que assolam a humanidade fevereiro 06, 2018

Quanto tempo é que o diabo demora a esfregar um olho?

Não se estão familiarizados com a expressão "enquanto o diabo esfrega um olho". A minha mãe costuma usá-la quando o meu pai está a comer com uma rapidez de fazer inveja ao campeão actual de fórmula que não faço ideia quem seja. Foi precisamente numa dessas ocasiões que me ocorreu esta questão. Há algum estudo sobre isto? Há sequer algum tipo de prova que o diabo esfregue os olhos? Creio que não. Passei dez anos na catequese e nunca lemos nenhuma parte da bíblia onde se descrevesse o dito cujo e praticar tal acção. Certo é que não seria relevante para a narrativa, mas o que não falta por aí são livros repletos de descrições inúteis. O mais provável é eu nunca encontrar uma resposta para esta questão, o que acaba por ser uma excelente notícia já que eu não desejo propriamente conhecer o diabo.