15 coisas (com zero relevância) que aprendi na Grécia

viagem agosto 25, 2022

Eu? A ressacar de três semanas de férias em que duas e meia foram passadas no meu destino de sonho e o resto foi passado à espera que o incêndio que começou a uns metros de minha casa queimasse o pouco que faltava arder na freguesia? Não, que ideia. Estou extremamente contente de voltar ao trabalho. 

Ainda que esteja extremamente feliz com este regresso, parece-me altura de refletir sobre o que me ensinaram estes 19 dias no berço da democracia, dos jogos olímpicos, da filosofia e dos gajos que nos ganharam o Euro 2004. 


1. O código da estrada é diferente do nosso

Ou, pelo menos, parece. Não que eu me lembre de muito do nosso (tenho até bastantes certezas que chumbaria se fosse fazer o exame de código agora), mas o deles tem de ter ali umas falhas graves. Ora, o traço contínuo existente em tudo quando não é autoestrada não está lá a fazer nada. Aqui, significa que a ultrapassagem é proibida. Lá, é como se não existisse porque todos ultrapassam na mesma. Para melhorar, a ideia de ter apenas uma faixa um pouco mais larga é inexistente. Se a faixa é larga, transforma-se em duas, mesma que isso implique que o carro do lado tem de ir para a berma. Como é que sobrevivi a tantos quilómetros neste ambiente? Não sei, mas voltei para contar a história.

2. Come-se muito bem por muito pouco

Eu achava que ia pagar preços de Lisboa quando me deparo com contas de 10€ na maior cidade da maior ilha grega (com direito a sobremesa à borla) e com 7,5€ em plena capital. A juntar aos preços mínimos, a comida é maravilhosa e eu podia simplesmente viver com todos os pratos acompanhado de tzatziki o resto da vida.

3. Os gregos gostam demasiado da sua música e nós também temos de gostar

As rádios quase não passam música estrangeira e a publicidade é praticamente inexistente. Claro que também não variam muito na música que passam. Por esta altura, creio conseguir dar-vos o top 5 de músicas mais reproduzidas nas rádios gregas: esta, esta, esta, esta e esta. E quem diz rádios, diz lojas e restaurantes. Se eu ainda suporto alguma delas? Pouco.

4. Os franceses estão em todo o lado

Mas quanto em digo "todo o lado", é mesmo todo o lado. Eu estive em 12 cidades diferentes e em todas elas ouvi falar mais francês do que grego.

5. Pareço grega

Não sei se é dos ares do Mediterrâneo, mas começou a fazer parte do meu dia-a-dia, logo no primeiro destino, cumprimentar pessoas com um "kalimera", porque era assim que elas me cumprimentavam também. Perdi a conta à quantidade de vezes em que me disseram que parecia grega ou das vezes em que eu era cumprimentada em grego e as pessoas à minha frente/atrás de mim em inglês. Claro que isto foi extremamente inútil quando cheguei a Creta à 1 da manhã e me calhou um taxista que não percebia nada de inglês. Aí, ser grega teria sido útil.

6. Gosto de praia

Sim, eu sei que estou a contrariar algo que disse a todas as pessoas que conheci melhor ou pior durante toda a minha vida, mas, em minha defesa, só tinha experimentado praias portuguesas. Ora, uma praia com água azul turquesa digna de filtros de instagram, com pedras em vez de areia que não se colam a todo o nosso corpo nem sujam o carro, sem ondas, com água quente e com uma quantidade mínima de pessoas? Grande fã. Portanto, continuem a não me convidar para ir à praia, a menos que seja na Grécia.


7. Não odeio café

No seguimento do ponto acima, fiz outra grande descoberta sobre mim mesma. Café não é horrível. Se for café grego e tiver gelo misturado. Não que seja ótimo, mas é bebível, ao contrário da água suja que se vende neste país.

8. Os gatos de rua são mais gordos que a minha gata

Em parte porque a minha gata gosta mais de dormir do que de comer (não a condeno), mas também porque os gatos que encontramos em todo o lado (creio que, ainda assim, em menor número que os franceses) são muito gordos. Os gregos podem passar fome, mas os gatos têm comida e bebida em todos os cantos.


9. Há muito maus olhado na Grécia

Qualquer loja de lembranças em qualquer canto da Grécia está repleta de porta-chaves, ímanes e tudo o que se possa imaginar com o símbolo azul do mau olhado. 

10. "Feliz aniversário" serve para tudo

Era dia 15 de agosto, feriado também na Grécia, quando entrei num mini mercado na ilha de Aegina. Preste a pagar, a senhora diz-me o valor, eu pago e ela despede-se com um "chronia pola". Eu sei, dos meus duros anos de duolingo, que esta expressão é usada para desejar feliz aniversário. Saí de lá a questionar-me se fazia anos em agosto ou em janeiro, mas rapidamente o google me disse que esta expressão serve para aniversários, feriados e outras tantas datas comemorativas, como se isso fizesse algum tipo de sentido.

11. Fecha tudo ao domingo

E claro que eu percebi isto da pior forma, quando precisava mesmo de um Lidl aberto. Eu pensava que ia para um país de terceiro mundo como o nosso e eis que percebo que as pessoas que trabalham em lojas têm o domingo de folga. Onde é que isto já se viu.

12. Os transportes públicos funcionam

Como devem calcular, planear uma viagem que passa por várias cidades e ilhas implica ler coisas que outras pessoas escreveram. Li muito sobre o não funcionamento dos transportes públicos na Grécia. Isto é gente que nunca chegou à estação de comboio e tem a linha cortada por causa de um incêndio que está longe da linha (sim, aconteceu-me domingo passado). É gente que nunca usou a CP nem a Carris. E não são só os transportes que funcionam (e a horas), os painéis que anunciam quanto tempo falta para os autocarros também funcionam. Imaginem sermos tão evoluídos.

13. Atenas não é suja

Também li em muitos sítios que Atenas era uma cidade feia, com muitos rabiscos e suja. Eu trabalhei ao lado da rua cor de rosa durante um ano e meio. Isso sim, é sujo, feio e mal cheiroso. Nunca saí de manhã de casa em Atenas com os pés a colar ao chão e a sensação de que o passeio tinha sido vomitado por toda a cidade na noite anterior.


14. Os gregos têm problemas com futebol e basquet

Quem sou eu, portadora de redpass na época 2019/20, para falar sobre isto? Ninguém, mas eu pelo menos apoio uma equipa do meu país. Se há uma televisão num bar ou restaurante na Grécia, vai estar a dar futebol estrangeiro ou basquet nacional. Se há uma loja, vai ter t-shirts de jogadores de futebol internacionais ou de jogadores de basquet (se são nacionais ou internacionais já não sei, que não é a minha especialidade).

15. Passadeiras são sobrevalorizadas

E, por isso mesmo, mais vale poupar o dinheiro que se ia gastar em tinta e não as fazer. As pessoas passam no meio da estrada e os carros param e nem reclamam. Ajuda muito o facto de as ruas serem praticamente todas de sentido único em Atenas.

A cordialidade do foda-se

língua portuguesa julho 14, 2022

No outro dia aconteceu-me uma coisa que costuma suceder muito: vi escrito, numa qualquer rede social, a palavra "fodasse". Já há uns anos que deixou de me chamar a atenção, mas foi escrita por uma pessoa com muitos anos de estudos. Hoje em dia, todos temos muitos anos de estudo, mas esta pessoa tem demasiados.

Ora, isto não prova que a pessoa não sabe escrever. Prova, sim, que há uma falha grave no nosso ensino, que foi identificada, em 2016, pelo Ricardo Araújo Pereira e em relação à qual ninguém faz nada. Talvez ter estado a tirar um curso de revisão de texto me tenha alertado para questões linguísticas e gramaticais nas quais não pensava até há um mês. 

Desde que vi isto que tenho pensado bastante sobre o assunto. Não propriamente sobre o erro, mas sobre a sua correção e respetivo significado. Primeiro, importa referir que "fodasse" não existe. Nem tão pouco pode ser o imperfeito do conjuntivo do verbo "fodar" por este, ao contrário de "foder", não está dicionarizado. 

Na origem deste erro está um epidemia que afeta mais portugueses do que o covid (sendo que só eu e mais meia dúzia de pessoas é que ainda não apanhámos covid): a confusão entre o presente reflexo e o imperfeito do conjuntivo. O segredo? Se conseguirem por "se" antes da palavra, não a hifenizem. De nada.

Mas passemos então ao assunto que tem ocupado o meu cérebro: o foda-se. Foda-se está no dicionário como sendo uma interjeição designativa de admiração, surpresa, indignação, desagrado, indiferença, raiva etc. Mas imaginemos que o verbo "fodar", previamente referido, existia. Foda-se seria, assim, uma forma do imperativo do verbo. 

No fundo, soltar um foda-se, é mandar foder (ou "fodar"?) alguém. Mas não é mandar foder alguém de qualquer maneira, que nós somos mal-educados, mas sempre cordiais. Selvagens dizem "fode-te". Nós, que somos pessoas civilizadas, dizemos foda-se, onde o "se" se refere a você, que é preciso manter alguma distância de quem mandamos foder-se (ou fodar-se?). 

Tinha escrito este texto inicialmente para o Ciberdúvidas, mas depois repensei e achei melhor não o enviar para o coordenador. Não por estar repleto de asneiras, mas antes por ter procurado fontes que comprovassem o que aqui escrevi e não ter encontrado nenhuma. No fundo, alguém tem de levantar as grandes questões para que depois outros as estude. De nada, sociedade.

Coisas que me fizeram perceber que estou velha

maio 03, 2022

Eu sei, a maioria das pessoas que está a ler isto (maioria, leia-se, três) está a pensar "mas tu não estás velha". Certo, e a verdade é que ir trabalhar todos os dias me ajuda a acreditar nisso porque continuo, ocasionalmente, a ser confundida com os estudantes, mas a verdade é que eu estou quase nos trinta e em crise de meia idade pelo menos desde os 25. Porquê? Por isto.

O uso de quase mesmo agora

Dizer "quase" quando ainda tenho mais de oito meses até aos trinta é capaz de ser sinónimo de envelhecimento. É que este é o tipo de linguagem que a minha mãe usa: "olha que já são quase duas tarde", para me acordar ao fim de semana; "tens quase trinta anos e ainda não *inserir todas as coisas que são esperadas de pessoas quase nos trinta*", que oiço desde os 25.

Julgar os gostos dos mais novos

A expressão "no meu tempo" nunca fez tanto sentido como agora. Porque no meu tempo é que se ouvia música boa (a ver se agora há uma banda moldava no top nacional?), no meu tempo é que se comia bem, no meu tempo é que as crianças tinham uma boa infância. Ou, em alternativa (que é, geralmente, o que significa o "ou"), faço uso de "esta geração", normalmente para fins depreciativos porque, convenhamos, a geração seguinte é sempre pior que a anterior. 

Concertos? Sim, mas sentada

Eu adoro ir a concertos. A minha mãe diz que é das poucas coisas em que gasto dinheiro. Eu diria que é das poucas em que não me importo de o gastar. Mas de há uns anos para cá (sobretudo depois de três horas no coliseu de Lisboa a ver o David Fonseca) que aprendi a minha lição e opto por bilhetes para lugares sentados, a menos que não faça sentido. Mas eu sou uma pessoa da música deprimente, por isso, faz sempre sentido.

Não consigo fazer noitadas 

Hoje em dia, são onze da noite e eu estou a morrer. A menos que seja domingo. Aí, o meu cérebro acha por bem ficar acordado até altas horas da madrugada para garantir que eu apareço com a pior cara possível no trabalho à segunda-feira. 

Preciso de descansar 

Quem me conhece diria que isto não é da idade, mas antes um problema genético. Não estão enganados, mas a idade deixou-me (ainda) mais cansada. Lembro-me de uma vez em que a banda onde estava (não perguntem, a sério) tinha atuação no domingo de Páscoa. Fui, cheguei a casa depois das duas da manhã, às sete estava a apanhar o comboio para Lisboa, fiz oito horas de trabalho e, depois disso, ainda fui à Luz ver o Benfica. Escusado será dizer que não voltei a repetir.

Cabelos brancos

A quantidade de pessoas da minha idade que me diz que ainda não tem cabelos brancos é irritantemente grande. É que eu vi o primeiro com 18 e, nos 11 anos que se passaram desde aí, tenho vindo a comprovar que arrancar um dá origem a sete novos. Se vou continuar a arrancar? Claro, até que não haja outro remédio senão pintar. 

Bebés e casamentos

Eu sou a favor de casamentos, sobretudo se não tiver de conduzir depois deles, mas ter as redes sociais repletas deles e de bebés tornou-se a novo normal de há quatro anos para cá. Eu continuo sem entender o casamento ou a paternidade antes dos trinta (ou depois, vá).

Esqueço-me da minha idade

Quantas vezes é que alguém me pergunta a idade e eu tenho de fazer contas mentais para não me enganar? Ora, nasci em 1993, noves fora nada, portanto tenho 29. 

Vinho

Eu passei anos a não entender o fascínio do vinho, até o achava nojento. Agora acho ridículo ir jantar fora e pedir outra coisa que não isso. Espero que, eventualmente, me aconteça o mesmo com a cerveja, porque me ficava muito mais barato.