Citemos Xutos correctamente

letras novembro 30, 2017
Há variadas coisas que me enervam e tiram o sono e hoje pretendo vir aqui esclarecer duas delas. Claro que o mote para tal é a morte do Zé Pedro dos Xutos. Sobre isso, apraz-me apenas dizer que o único concerto que vi dos Xutos foi este verão. Na verdade andei anos a tentar assistir a um mas nunca calhou. Foi o melhor concerto a que assisti? Claro que não, mas os Xutos têm aquele poder de agradar a gente de todas as idades e géneros, o que sempre me fascinou.

Passando à parte que interessa (até porque a minha opinião sobre música ou qualquer outra coisa vale pouco mais que nada), vamos lá ver se faço serviço público.

Canta-se em "Tudo p'ra ti Maria" o seguinte: 

"De Bragança a Lisboa
São 9 Horas de distância
Queria ter um avião
P'ra lá ir mais amiúde"

Ninguém quer ir a lado nenhum "mais a miúda" e, no entanto, 90% das pessoas insistem neste ponto. O que o Tim deseja é ter um avião para ir mais vezes a Lisboa sem demorar 9 horas desde Braga. Viram? Corrigi um dos mais épicos erros dados pelos portugueses e ainda ensinei a quem não sabia o significado de amiúde. É uma pena não haver a categoria "serviço público" nos blogs do ano.

Passemos ao segundo erro grave que tenho detectado. Canta-se em "A minha casinha":

"Meu Deus como é bom morar
No modesto primeiro andar
A contar vindo do céu."

Atenção a isto: o rés do primeiro andar não é nada. No máximo seria o rés-do-chão e ainda assim não faria sentido porque o rés-do-chão a contar vindo do céu não existe (ou é o chamado rooftop?). 

Problemas com a falta de água de que ninguém fala

novembro 21, 2017
Há muito, muito tempo (quem pensou que eu ia citar José Cid que se acuse), num país chamado Portugal, chovia. Não chovia regularmente como em Inglaterra, mas chovia quando era espectável. O ano dividia-se em quatro partes: duas com sol e duas com frio e chuva. Eu ainda vivi nesse tempo, o que prova que eu estou bem mais velha do que a minha mentalidade indica.

Tudo isto vem a propósito da minha indignação com os noticiários em altura de seca. Toda a gente fala das barragens e da comida para os animais mas não há uma estação de televisão que fale sobre a dor de quem tem de regar o jardim em pleno outono. É que isto de ter jardim é muito bonito mas dá trabalho. 

Começa tudo com a plantação. Se não são entendidos como eu nisto da jardinagem, têm aqui uma boa oportunidade para aprender com quem realmente sabe das coisas. Plantar pequenas porções de relva é chato e não dá frutos durante bastante tempo. Há uns anos tive obras cá em casa e parte do jardim ficou destruído. Como fui eu a plantar essa secção, ainda hoje está meio defeituosa com mais terra à vista do que devia.

Uma vez  plantado, e necessário encontrar as bugigangas certas para o enfeitar. Há quem opte por sapos, pela branca de neve e os sete anões, por pedras ou outras coisas inúteis. Eu tenho candeeiros no jardim. Além de não serem donos de qualquer tipo de beleza, são completamente inúteis. Inúteis tal qual as pedras que fazem uma espécie de passeio deficiente que ninguém usa porque pisar a relva é mais agradável.

Chegada a hora de escolher as plantas e árvores para um jardim, a maioria das pessoas escolhe mal. Palmeiras são uma péssima ideia e ainda ninguém (pelo menos aqui na zona) se apercebeu disso. É que aquilo cresce. Muito. E as raízes também crescem e dão cabo de muros. É desagradável.

Mas o maior problema é a água. Animais sem comida e barragens sem água são o quê comparado com este meu problema? Só se indigna com estas coisas quem nunca perdeu horas de vida a regar o jardim. Sim, horas. E isto funciona por fases:

1. Pensamos para connosco que regar o jardim é uma óptima ideia para descontrair depois de um dia menos bom, observar a natureza e pensar um bocado;

2. Logo a seguir ligamos a mangueira e molhamo-nos todos. Lá se vai a descontracção;

3. Já todos molhados, puxamos a mangueira para o outro lado do jardim. Deixa de correr água. Olhamos para trás e vemos que a mangueira está toda enrolada. Tentamos desenrolá-la mas rapidamente percebemos que temos de voltar atrás para fazer isso manualmente;

4. Uma vez desenrolada a mangueira, reparamos que mesmo assim não corre muita água. A mangueira está rota e não há solução possível no momento;

5. Percebemos que vamos ter de trabalhar com uma mangueira aleijada e puxamos mais um bocado. Não dá para puxar mais e ainda nos falta meio jardim;

6. Começamos a fazer gestos estranhos com a mangueira e a mandar água aos soluços para a parte que nos falta regar;

7. Quando nada resulta, aceitamos a derrota, arrumamos tudo e vamos para casa a resmungar enquanto pensamos na roupa que vamos vestir depois de termos molhado a nossa.

Reza a lenda que amanhã chove. É uma lenda contada pelo IPMA portanto é de duvidar, mas espero que seja verdade porque eu já não tenho nada para vestir que não esteja encharcado. 

Todos os polícias deviam ter um renault clio

novembro 15, 2017
Não sei se já tiveram oportunidade de se informarem sobre a mulher que foi morta acidentalmente pela PSP. Eu, como gosto de ser uma pessoa bem informada, decidi abrir o site que mais detalhes nos dá sobre todos os crimes que ocorrem no nosso país: o do CM.

Vi a notícia durante o Jornal da Uma e pensei imediatamente numa solução para que isto não se torne a repetir: arranjar um renault clio para todos os agentes da PSP. É natural que algumas pessoas questionem esta solução mas garanto-vos, por experiência própria, que dá resultados. 

Eu tenho um carro desse mesmo modelo (o meu pai é que tem mas dispensa-mo de vez em quando) e também tenho uma péssima orientação geográfica. Acontece que meio país tem um carro parecido ou igual e distinguir qual é o meu no meio das multidões levou a que eu decorasse a matrícula para não me acontecer o que muitas vezes acontece à minha mãe que é tentar abrir a porta do primeiro renault clio branco que vê.

Haverá pessoas a ler isto (sabe-se lá porquê) ainda cépticas quanto a esta solução perfeitamente viável. Ora, a fazer fé no que diz o CM, os agentes da PSP perseguiram os assaltantes do multibanco desde Almada até à rotunda do relógio. Isto perfaz 15 quilómetros. 15 quilómetros em que nenhum dos agentes parou para pensar "epa olha que se calhar até nem era má ideia decorar a matrícula do carro que estamos a perseguir para o caso de o perdemos de vista". Isto aconteceria caso se adoptasse a minha solução. A pessoa que tem um renault clio já está programada para decorar, pelo menos, as letras que fazem parte da matrícula.

Incomoda-me também que os agentes tenham perdido os assaltantes de vista. Portanto eles saíram na rotunda em direcção ao aeroporto e, como aquilo já não é tão a direito como a segunda circular, decidiram assinalar o caminho que percorriam com disparos a fazer lembrar o caminho da igreja ao restaurante, num casamento. Aquilo foi uma oferenda dos bandidos para que não os perdessem de vista e ainda assim não funcionou. 

Às vezes as pessoas perguntam-me o que é que eu faço nos meus tempos livres. Essencialmente é pensar sobre estas coisas. 

Agora vai ser sempre a descer

humor novembro 11, 2017
Ontem dormi francamente mal, por isso, quando me levantei estava longe de imaginar que um dia que começou mal ia acabar tão bem. Eu sabia que ia acabar bem, afinal ia ver o Ricardo Araújo Pereira, mas nem nos meus sonhos imaginava o que viria a acontecer. 

Para os mais distraídos o RAP decidiu fazer uns quantos espectáculos nas zonas afectadas pelos incêndios de outubro para angariar dinheiro. Eu, que sou uma pessoa desempregada e muito forreta, sou bastante ponderada quando se trata de gastar dinheiro mas neste caso não pensei duas vezes. Quando comprámos os bilhetes já não havia muitas opções (até porque esgotaram em 4 horas) portanto acabei na fila da frente (naquelas laterais). 


Quem me conhece sabe pelo menos duas coisas sobre mim: que eu sou do Benfica e que sou fã do Ricardo Araújo Pereira (e eu não sou fã de muita gente). Não sou fã só porque ele tem piada e também é do Benfica. Sou fã da inteligência, da genialidade, do facto de ele escolher sempre a palavra certa para determinado momento do texto. Eu sou uma pessoa simples: nunca sonhei ser rica nem ter uma grande casa ou carro topo de gama. Trocava facilmente tudo isso por 5 minutos com as pessoas que mais admiro.

Há 3 anos inscrevi-me na pós-graduação de Artes da Escrita e a primeira aula a que assisti foi a de Escrita de Comédia dada pelo RAP. Lembro-me perfeitamente do momento em que cheguei ao pé da sala e o vi. Assisti à aula encantada e no final, deixei sair todos os meus colegas e fui pedir-lhe uma fotografia e dizer-lhe que era fã dele. Durante mais ou menos 3 meses tive o prazer de o ouvir todas as semanas. Quem conviveu comigo na altura sabe que aquelas foram as melhores quintas-feiras da minha vida. Durante esses meses trabalhei como nunca num texto que tinha de lhe entregar no final do semestre. Claro que, de cada vez que me lembro desse mesmo texto, me pergunto como é que tive coragem de lho enviar.

Ontem, 3 anos depois, lá estava eu na fila da frente com um livro dele que me foi dado à entrada (e que, surpresa, eu já tinha). O espectáculo mantém-se fiel ao nome: "Uma conversa sobre assuntos" (para quem quiser saber mais pode ler esta reportagem do Observador). O público fazia perguntas (umas melhores que as outras) e ele respondia. Levantei várias vezes o braço para fazer uma pergunta até ele dizer que só havia tempo para mais uma. Voltei a levantar o braço mas nada. Não é que tivesse alguma coisa de especial para lhe perguntar mas queria fazer parte daquilo. É engraço que durante toda a minha vida académica nunca participei nas aulas de livre e espontânea vontade a não ser nas dele.

A rapariga a quem entregaram o microfone perguntou ao RAP qual a melhor Mixórdia que ele tinha escrito. Ele virou-se para mim (provavelmente porque tinha visto que eu estava chateada por não ter tido a sorte de lhe perguntar nada) e pediu-me que fosse ao palco ler uma Mixórdia com ele. 

Eu, que não sou grande fã de palcos nem tão pouco gosto de ser o centro das atenções, meti a minha melhor cara de "tu não estás a tremer por todos os lados", subi ao palco, agarrei no microfone e ele perguntou-me se já nos conhecíamos. Reforcei a cara de "tu não estás a tremer por todos os lados" e disse-lhe que sim, que fui aluna dele. Lemos a Mixórdia e eu regressei ao meu lugar. Tenho noção que ele disse mais umas coisas mas não me recordo exactamente quais foram. Quando saiu do palco despediu-se de todos e eu  tive direito a um aceno especial. Como sou atrasada mental limitei-me a sussurrar um obrigado. Agora que estou a pensar nisto apercebo-me que o vocabulário português não é assim tão vasto na medida em que não existe palavra alguma suficientemente forte que eu pudesse usar naquele momento. Tinha uma lágrima no canto do olho mas controlei-me porque tenho uma reputação de pessoa insensível a manter. O RAP disse, no final daquele jogo que fez pelo Benfica, que "a partir de agora a minha vida é sempre a descer, vou estar a engonhar, a passar tempo até morrer" e, neste momento, não há nada que descreva melhor a minha vida.

Porque é que eu nunca serei famosa

novembro 03, 2017
Há imensas pessoas que têm como objetivo de vida tornarem-se famosas. A fazer o quê? Pouco importa, nem elas pensaram nisso, o que interessa é serem seguidas por milhares nas redes sociais, serem abordados na rua pelos fãs e terem dinheiro. Eu nunca tive esse sonho, até porque a ideia de estar no supermercado e alguém vir falar comigo não é nada agradável. Além disto há mais três coisas que me impedem de ter este sonho.

A primeira é óbvia mas também a menos relevante: eu não tenho nenhum talento ou, pelo menos, nenhum digno de mostrar ao mundo. Gosto de cantar mas sou bastante limitada e nunca cantaria aquilo que se ouve nas rádios hoje em dia. Gosto de escrever mas nunca escrevia um livro por falta de paciência e, acima de tudo, porque não tenho uma boa história para contar (e porque metade do teclado do meu computador não funciona *Fnac, worten, um patrocínio vinha a calhar*). Isto é um impedimento? Claro que não. O que não falta por aí são cantores que não sabem cantar, escritores que não sabem escrever ou atores que não sabem representar. O que essas pessoas têm que eu não tenho é sorte (ou Carreira como apelido).

Ser famoso hoje em dia implica um conjunto de coisas nas quais eu não me revejo nomeadamente a fotografia. Não é que não goste de fotografias, se calhar se tivesse um telemóvel bom até tirava algumas, o que eu não tenho é paciência para me tirarem fotografias. A ideia de estar na rua, ou a jantar com amigos, ou às compras no supermercado e alguém me vir pedir para tirar um foto é assustadora. O mais provável era levarem com o meu mau feitio e eu ficar a fazer uma careta qualquer na foto. A sério, não façam isso. Eu sei que fotos com famosos geram muitos likes mas perguntem-se antes de incomodarem a pessoa se a admiram assim tanto. Ainda dentro do tema estão também as redes sociais. As revistas cor de rosa hão-de morrer porque 95% dos famosos partilham tudo o que fazem no facebook ou no instagram. Nos outros 5% incluem-se todos aqueles que eu realmente admiro e que só se dignam a abrir as redes sociais para partilhar coisas relacionadas com o trabalho como se eu não fosse curiosa e quisesse saber tudo sobre a vida deles.

Por último, mas não menos importante: a assinatura. Eu não sou pessoa de pedir autógrafos mas de todas as assinaturas de gente famosa que já vi há uma coisa em comum: não se percebe nada. Eu sei que o autógrafo do Ricardo Araújo Pereira é dele porque está no livro da "Mixórdia" (e porque nunca pedi mais nenhum a ninguém) caso contrário, se visse um papel com aqueles rabiscos, achava que era uma receita médica. Ora, por muito má que a minha letra seja, eu não consigo assinar assim. A minha assinatura é (espantem-se) o meu nome e na maioria das vezes nem sequer é escrito da mesma forma porque eu vario a maneira como escrevo as letras.