Eu? A ressacar de três semanas de férias em que duas e meia foram passadas no meu destino de sonho e o resto foi passado à espera que o incêndio que começou a uns metros de minha casa queimasse o pouco que faltava arder na freguesia? Não, que ideia. Estou extremamente contente de voltar ao trabalho.
Ainda que esteja extremamente feliz com este regresso, parece-me altura de refletir sobre o que me ensinaram estes 19 dias no berço da democracia, dos jogos olímpicos, da filosofia e dos gajos que nos ganharam o Euro 2004.
1. O código da estrada é diferente do nosso
Ou, pelo menos, parece. Não que eu me lembre de muito do nosso (tenho até bastantes certezas que chumbaria se fosse fazer o exame de código agora), mas o deles tem de ter ali umas falhas graves. Ora, o traço contínuo existente em tudo quando não é autoestrada não está lá a fazer nada. Aqui, significa que a ultrapassagem é proibida. Lá, é como se não existisse porque todos ultrapassam na mesma. Para melhorar, a ideia de ter apenas uma faixa um pouco mais larga é inexistente. Se a faixa é larga, transforma-se em duas, mesma que isso implique que o carro do lado tem de ir para a berma. Como é que sobrevivi a tantos quilómetros neste ambiente? Não sei, mas voltei para contar a história.
2. Come-se muito bem por muito pouco
Eu achava que ia pagar preços de Lisboa quando me deparo com contas de 10€ na maior cidade da maior ilha grega (com direito a sobremesa à borla) e com 7,5€ em plena capital. A juntar aos preços mínimos, a comida é maravilhosa e eu podia simplesmente viver com todos os pratos acompanhado de tzatziki o resto da vida.
3. Os gregos gostam demasiado da sua música e nós também temos de gostar
As rádios quase não passam música estrangeira e a publicidade é praticamente inexistente. Claro que também não variam muito na música que passam. Por esta altura, creio conseguir dar-vos o top 5 de músicas mais reproduzidas nas rádios gregas: esta, esta, esta, esta e esta. E quem diz rádios, diz lojas e restaurantes. Se eu ainda suporto alguma delas? Pouco.
4. Os franceses estão em todo o lado
Mas quanto em digo "todo o lado", é mesmo todo o lado. Eu estive em 12 cidades diferentes e em todas elas ouvi falar mais francês do que grego.
5. Pareço grega
Não sei se é dos ares do Mediterrâneo, mas começou a fazer parte do meu dia-a-dia, logo no primeiro destino, cumprimentar pessoas com um "kalimera", porque era assim que elas me cumprimentavam também. Perdi a conta à quantidade de vezes em que me disseram que parecia grega ou das vezes em que eu era cumprimentada em grego e as pessoas à minha frente/atrás de mim em inglês. Claro que isto foi extremamente inútil quando cheguei a Creta à 1 da manhã e me calhou um taxista que não percebia nada de inglês. Aí, ser grega teria sido útil.
6. Gosto de praia
Sim, eu sei que estou a contrariar algo que disse a todas as pessoas que conheci melhor ou pior durante toda a minha vida, mas, em minha defesa, só tinha experimentado praias portuguesas. Ora, uma praia com água azul turquesa digna de filtros de instagram, com pedras em vez de areia que não se colam a todo o nosso corpo nem sujam o carro, sem ondas, com água quente e com uma quantidade mínima de pessoas? Grande fã. Portanto, continuem a não me convidar para ir à praia, a menos que seja na Grécia.
7. Não odeio café
No seguimento do ponto acima, fiz outra grande descoberta sobre mim mesma. Café não é horrível. Se for café grego e tiver gelo misturado. Não que seja ótimo, mas é bebível, ao contrário da água suja que se vende neste país.
8. Os gatos de rua são mais gordos que a minha gata
Em parte porque a minha gata gosta mais de dormir do que de comer (não a condeno), mas também porque os gatos que encontramos em todo o lado (creio que, ainda assim, em menor número que os franceses) são muito gordos. Os gregos podem passar fome, mas os gatos têm comida e bebida em todos os cantos.
9. Há muito maus olhado na Grécia
Qualquer loja de lembranças em qualquer canto da Grécia está repleta de porta-chaves, ímanes e tudo o que se possa imaginar com o símbolo azul do mau olhado.
10. "Feliz aniversário" serve para tudo
Era dia 15 de agosto, feriado também na Grécia, quando entrei num mini mercado na ilha de Aegina. Preste a pagar, a senhora diz-me o valor, eu pago e ela despede-se com um "chronia pola". Eu sei, dos meus duros anos de duolingo, que esta expressão é usada para desejar feliz aniversário. Saí de lá a questionar-me se fazia anos em agosto ou em janeiro, mas rapidamente o google me disse que esta expressão serve para aniversários, feriados e outras tantas datas comemorativas, como se isso fizesse algum tipo de sentido.
11. Fecha tudo ao domingo
E claro que eu percebi isto da pior forma, quando precisava mesmo de um Lidl aberto. Eu pensava que ia para um país de terceiro mundo como o nosso e eis que percebo que as pessoas que trabalham em lojas têm o domingo de folga. Onde é que isto já se viu.
12. Os transportes públicos funcionam
Como devem calcular, planear uma viagem que passa por várias cidades e ilhas implica ler coisas que outras pessoas escreveram. Li muito sobre o não funcionamento dos transportes públicos na Grécia. Isto é gente que nunca chegou à estação de comboio e tem a linha cortada por causa de um incêndio que está longe da linha (sim, aconteceu-me domingo passado). É gente que nunca usou a CP nem a Carris. E não são só os transportes que funcionam (e a horas), os painéis que anunciam quanto tempo falta para os autocarros também funcionam. Imaginem sermos tão evoluídos.
13. Atenas não é suja
Também li em muitos sítios que Atenas era uma cidade feia, com muitos rabiscos e suja. Eu trabalhei ao lado da rua cor de rosa durante um ano e meio. Isso sim, é sujo, feio e mal cheiroso. Nunca saí de manhã de casa em Atenas com os pés a colar ao chão e a sensação de que o passeio tinha sido vomitado por toda a cidade na noite anterior.
14. Os gregos têm problemas com futebol e basquet
Quem sou eu, portadora de redpass na época 2019/20, para falar sobre isto? Ninguém, mas eu pelo menos apoio uma equipa do meu país. Se há uma televisão num bar ou restaurante na Grécia, vai estar a dar futebol estrangeiro ou basquet nacional. Se há uma loja, vai ter t-shirts de jogadores de futebol internacionais ou de jogadores de basquet (se são nacionais ou internacionais já não sei, que não é a minha especialidade).
15. Passadeiras são sobrevalorizadas
E, por isso mesmo, mais vale poupar o dinheiro que se ia gastar em tinta e não as fazer. As pessoas passam no meio da estrada e os carros param e nem reclamam. Ajuda muito o facto de as ruas serem praticamente todas de sentido único em Atenas.