Mundial 2018: os oitavos

Futebol junho 29, 2018

A fase de grupos já lá vai, o que quer dizer que deixámos de ter três jogos por dia. Em compensação agora chegam os jogos a eliminar que têm sempre um gosto especial. Antes de apostarem, atente nas minhas previsões.

França vs. Argentina: pelos portugueses perdiam os dois. A França continua a mesma selecção irritante que sempre foi e sem grande coisa para dar ao futebol. A Argentina tem o Messi e 10 coxos. Se o Messi não deixar que os colegas toquem na bola durante os 90 minutos talvez tenham hipóteses.

Uruguai vs. Portugal: parece-me óbvio que desta vez nem vai dar para o empate. O maior ponto de interesse do jogo vai ser perceber quem é que o Suarez vai morder.

Espanha vs. Rússia: a Rússia era super candidata até apanhar uma equipa a sério. Mal posso esperar para ver a equipa anfitriã ser goleada. Não será tão épico quanto os 7-1 da Alemanha ao Brasil mas será na mesma satisfatório.

Croácia vs. Dinamarca: a Croácia é das equipas que melhor futebol pratica e o Modric é um dos melhores jogadores da actualidade. É só isto.

Brasil vs. México: o Coutinho está a fazer uma excelente mundial, mas a nível de penteados o Neymar é um vencedor óbvio. Uma selecção que deixa o Ederson fora do onze não merece sequer passar a fase de grupos. 

Bélgica vs. Japão: há pelo menos oito anos que a Bélgica tem uma geração de jovens promessas que já não são jovens mas continuam a ser promessas na medida em que olhamos para o 11 belga e à frente de cada nome conseguimos proferir um "é bom, mas...". Tivessem os japoneses convocado o Tsubasa e nem valia a pena fazer este jogo.

Suécia vs. Suíça: provavelmente o jogo menos interessante desta fase. A Suécia deixou de fora do mundial a Holanda e a Itália e agora mandou a Alemanha mais cedo para casa mesmo não tendo o Ibra. A Suíça devia ganhar com um hat-trick do Seferovic para ver se alguém o compra.

Colômbia vs. Inglaterra: os ingleses são uma espécie de Sporting das selecções porque sempre que há uma grande competição acham que vão ser eles a vencer mas eventualmente vão-se apercebendo que isso não vai acontecer. Imagino este jogo a ir a penaltis e todos nós sabemos como é que isso acaba.

Música de apoio para o Mundial

Futebol junho 15, 2018
A Sagres pediu a todos os portugueses que repetissem os rituais do Euro 2016 durante este Mundial. Como não quero ser culpada pelas derrotas da selecção, façam o favor:


Importa esclarecer desde já alguns pontos:

1. O vídeo e o som não estão totalmente sincronizados em homenagem aos jogos de futebol que dão na RTP.

2. A pior parte disto não foram as horas perdidas a animar palavra por palavra mas sim ter de ouvir a minha voz essas mesmas horas. Não sei como é que as outras pessoas aguentam.

3. O Camões está chocado com a minha capacidade métrica e com as minhas rimas terminadas em ar e ão.

4. Isto era para ser com uma música do Toy mas é mais difícil encontrar instrumentais portugueses na net do que ver um golo de livre do Ronaldo pela selecção. Assim sendo, optei por uma música respeitada (instrumental daqui).

Letras com nota artística #11 - A Portuguesa

letras junho 10, 2018

O Dia de Portugal parece-me a ocasião certa para escrever isto. No outro dia estava a ver a selecção e comecei a pensar sobre o nosso hino nacional (porque para aguentar 90 minutos de selecção é preciso fazer um esforço cerebral extra) e questionei-me sobre diversas coisas nomeadamente os seus autores. Pois bem, segundo a wikipédia (que, como todos sabemos, é uma fonte de informação fiável), Alfredo Keil é o autor da música e Henrique Lopes de Mendonça o responsável pela letra do hino adoptado em 1911 e escrito em 1880. Ora, de música eu percebo pouco mais que nada portanto resta-me apenas analisar o texto d'A Portuguesa e ver se é desta que sou deportada.


"Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!

A primeira consideração interessante a ser feita são os dois versos extra que existem sem que ninguém os saiba (e muita gente nem deve saber que existem). Isto é um bocadinho como a música dos parabéns mas em versão inteligente porque cantar mais do que uma parte é prolongar uma situação estranha e desnecessária (esta é para todos aqueles que começam com o "tenha tudo de bom" depois de já se terem soprado as velas).

Parece-me óbvio que a música foi feita como forma de protesto contra a monarquia e oficializada como hino nacional logo após o início da primeira república (que todos sabemos o quão bem correu) mas há aqui um apelo à luta e à guerra que me parece excessivo para o nosso país. Nós éramos fortíssimos a descobrir terras que já tinham sido descobertas pelos seus habitantes, mas a nível de dar porrada a outros povos (ou a nós mesmos) nunca fomos grande coisa. Para um país que perdeu um rei numa batalha em Marrocos e espera que ele volte num dia de nevoeiro, é capaz de ser demasiado gritar "pela pátria lutar, contra os canhões marchar, marchar" como se fossemos realmente grandes guerreiros. Afinal, demorámos anos a instaurar de novo a república em Portugal e, quando o fizemos foi com cravos no lugar das balas. Fosse o Salazar o Presidente do Conselho em vez do Marcello Caetano e as coisas não tinham corrido tão bem.

Toda esta letra me faz lembrar as das músicas que aparecem no festival da canção: "lembram-se de nós? Fomos muita bons a descobrir caminhos marítimos para todo o lado e demos novos mundos ao mundo". Para mim uma boa letra tem de nos fazer pensar e esta cumpre esse requisito quando se refere ao "esplendor de Portugal" que nunca me lembro de ter presenciado. Que esplendor é que queremos levantar de novo? Aquele que tínhamos em 1494 aquando do tratado de Tordesilhas que nos dava metade do mundo? É que depois disso não conseguimos grandes esplendores.

Para os curiosos em relação às outras duas partes do hino nacional, cá estão elas:

Desfralda a invicta bandeira
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu novos mundos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra e sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!

Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra e sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
marchar, marchar!"


P.S. "Que HÁ-DE guiar-te à vitória" e não "que hão-de guiar-te à vitória". O verbo refere-se à voz dos avós e não aos avós em si.

Desabafo

comida junho 04, 2018

As lágrimas correm-me pela cara abaixo. Os meus olhos estão vermelhos e ardem-me ao ponto de não conseguir sentir mais nada. Neste momento de dor questiono toda a minha existência e pergunto-me se devo ou não seguir em frente e continuar a usar esta faca que tenho nas mãos. Deixo-a de lado por um momento para poder usar as mãos para limpar as lágrimas que já quase não me deixam ver. De nada serve. Continuo com a cara inundada de água salgada e com os olhos numa dor ardente. Volto a pegar na faca com a certeza de que este sentimento não passará tão cedo. Mas preciso de ser corajosa porque a cebola não se vai picar sozinha.