Como ser um bom português em 10 pontos

junho 10, 2016


Para os mais distraídos, hoje é feriado por ser o dia de Portugal. Em jeito de celebração trago-vos 10 conselhos que farão de vós melhores portugueses. Eu, enquanto terrível portuguesa que sou, só faço uma destas coisas (pelo menos regularmente). E vocês? Com quantos pontos é que se identificam?

1. Chegar atrasado

Comecei pelo mais típico. Chegar atrasado é mais português do que o prato de peixe num restaurante ser bacalhau com natas. E o pior é que isto está instaurado de tal maneira na sociedade que as pessoas pontuais é que começaram a ser os maus da fita. As 10 pessoas que chegam a horas a tudo neste país percebem o que eu estou a dizer. Chegar a um lugar às 20 horas quando essa foi a hora combinada e reclamar com os amigos que chegaram meia hora depois é visto como estúpido neste país porque afinal, ninguém obriga ninguém a chegar a horas se já sabe que os amigos não vão fazer o mesmo. Uma pessoa pontual neste país é mais discriminada que um adepto de futebol num hotel de Viana do Castelo.

2. Festivais de verão

É uma moda mais ou menos recente. Todo o português que se preze vai a Festivais de Verão. E notem que estou a usar o plural propositadamente porque ir só a um é para os fracos. Rock in Rio, Alive, Sudoeste, Super Bock Super Rock… Quantos mais, melhor. Há quem vá a festivais pela música (por exemplo eu, que não tenho por hábito pagar um balúrdio por artistas ou bandas de que não sou fã), mas a maioria vai pelo convívio. Claro, é bem melhor pagar para lá de 50€ para ir para o meio de milhares de pessoas ouvir música que nem conhecemos aos altos berros do que combinar um jantar com os amigos.

3. Não fazer piscas

Está implícito desde o momento em que tiramos a carta que o pisca é irrelevante no acto da condução. Afinal, ninguém chumba por não fazer piscas. É por essas e por outras que a maioria dos condutores se acha no direito de nos fazer parar na rotunda à espera que eles passem e acabam por sair antes. Amigos: se o pisca existe, é para ser usado.

4. Usar hífen no pretérito imperfeito do conjuntivo

Confesso que esta é das minhas manias preferidas e já há muito que deixei de me dar ao trabalho de a corrigir porque não servia de nada. Não é assim tão complicado distinguir quando é que usamos hífen ou não. Aprendam comigo: se precisarmos de um “se” atrás do verbo, então escreve-se com dois “ss”. Se não precisarmos (como o escreve-se), usamos hífen. Já que estamos numa de conselhos de português: “há” é usado quando se refere a tempo ou a verbo haver e “hades” é o deus grego do submundo.

5. Música aos altos berros

Quem nunca andou em transportes públicos e teve a sorte de ir a ouvir a música (sempre de qualidade) daquele tipo cheio de swag sentado no banco de trás? É um problema grave da nossa sociedade e que facilmente se resolvia com a expulsão do indivíduo do meio de transporte (preferencialmente enquanto este está em andamento).

6. Dieta

Que atire a primeira pedra quem, além de mim, nunca fez dieta… No meu tempo as dietas eram bastante simples: querias emagrecer, deixavas de comer. Hoje em dia não. Há dietas para todos os gostos. Numas não podes comer pão, noutras só podes comer pão. Numas tens de ter um “dia da porcaria”, noutras podes ter os que quiseres mas tens de beber uns sumos feitos de couve, pepino e curgete todas as manhãs. É uma questão de ir a uma livraria escolher aquela de que mais gostarem.

7. Livros de auto-ajuda

O Gustavo Santos pode ser uma espécie de pioneiro nestas coisas da auto-ajuda, mas está longe de ser o único a fazê-lo neste momento. Juntamente com os livros das dietas, estes são os que mais se encontram. E o pior é que vendem. Expliquem-me lá qual é o livro que diz “acredite em si, você é capaz” que vai conseguir mudar a vida de uma pessoa? É que além de parva, esta coisa da auto-ajuda é uma aldrabice. Um livro diz que eu consigo fazer qualquer coisa se acreditar nisso e trabalhar para tal. É mentira. Eu gostava imenso de ganhar uma medalha de ouro no Rio, mas por muito que acredite em mim, é lógico que não vai acontecer

8. Comer caracóis

Estamos em plena época de caracóis e português que é português gosta de caracóis. Mas atenção, gostamos tanto deles que sentimos necessidade de partilhar com os nossos seguidores do instagram e do facebook que vamos comer as pobres criaturas. A foto ganha pontos extra se for numa esplanada à beira mar e os caracóis forem acompanhados de uma imperial. Eu, que sou uma otária, nunca tirei fotos a caracóis antes de os comer.

9. Discutir futebol

Em Portugal os assuntos do país são deixados de lado em prol da “bola”. A bola discute-se como se fosse absolutamente determinante para a nossa vida. Seja no café ou noutro lado qualquer, todo o português discute futebol e, curiosamente, sabe sempre mais que os intervenientes diretos nos clubes. Se o nosso clube é campeão, vamos festejar até às tantas nem que no dia seguinte tenhamos de ir trabalhar de manhã. E chegadas alturas de europeus ou mundiais é a loucura. Há ecrãs gigantes a cada 10 metros para não perdermos nada do que se passa.

10. Ouvir fado

É uma moda recente que veio com esta “nova geração” do fado. Toda a gente gosta de fado. Principalmente aqueles mais animados que, se ouvirmos bem, nem são bem fado. Se derem na rádio, ainda melhor porque afinal precisamos que o público em geral aprove os nossos gostos musicais. Ai do português que se atreva a dizer que não gosta de fado!

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