A cultura dos festivais de verão

julho 12, 2018

Tenho uma amiga que, há uns dias, me disse a seguinte barbaridade: "vou ver os Arctic Monkeys ao Alive". Quanto muito ela devia ter optado pela formulação "vou ao Alive ver os Arctic Monkeys" e ainda assim estaria a ir contra os ideais do festival. 

Segundo os padrões da sociedade actual, esta frase tem quatro palavras a mais sendo elas "ver os Arctic Monkeys". Ninguém vai ver ninguém a um festival de verão. Até desconfio que a maioria das pessoas que compram bilhetes para estes eventos estão menos informadas sobre os cartazes do que eu. 

O processo de ir a um evento deste género é extremamente complexo. Começa tudo com o outfit perfeito bem ao estilo Coachella rasca (na verdade nem sei o que é o/a coachella mas sei que os outfits também são o exponente máximo). A isto junta-se um penteado meio estranho que ninguém usaria no seu dia-a-dia e dois quilos de glitter na cara. Uma vez chegados ao festival tiram-se 254 fotos num sítio cool  e escolhe-se a melhor para encher de filtros em 7 apps diferentes. Feito isto já são 10 da noite e os concertos já começaram há muito. Ainda há tempo para ir buscar 438 brindes e fotografar com eles identificando todas as marcas para ver se dá para arranjar um patrocínio. Nisto já estamos no último concerto da noite e convém fazer uns instastories com uma hashtag referente à tour da banda mas com erros porque a pessoa não sabe sequer o nome da banda, quanto mais o da tour

Durante os últimos anos tem-se vindo a desenvolver uma cultura de festivais de verão que eu ainda não consegui entender. As pessoas não vão pela música mas sim pelo convívio. Ora, se eu quiser conviver vou para o parque da Bela Vista num dia em que não precise de pagar 70€ de entrada, mas isso sou eu, que sou forreta. 

Como não sou, de todo, uma pessoa cool, só fui a um festival de verão na vida. Fui de calças de ganga, sapatilhas e um top qualquer. O penteado foi o mesmo de sempre: nenhum. Trouxe zero brindes para casa (até cheguei mesmo a recusar um chapéu porque fui esperta o suficiente para perceber que só me ia estorvar ao longo da noite). Não publiquei fotos nas redes sociais. Sou uma pessoa chata que só foi mesmo lá para aproveitar os concertos de artistas que queria ver. Eu e esta minha amiga somos uma espécie em vias de extinção. 

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