Problemas com a falta de água de que ninguém fala
novembro 21, 2017
Há muito, muito tempo (quem pensou que eu ia citar José Cid que se acuse), num país chamado Portugal, chovia. Não chovia regularmente como em Inglaterra, mas chovia quando era espectável. O ano dividia-se em quatro partes: duas com sol e duas com frio e chuva. Eu ainda vivi nesse tempo, o que prova que eu estou bem mais velha do que a minha mentalidade indica.
Tudo isto vem a propósito da minha indignação com os noticiários em altura de seca. Toda a gente fala das barragens e da comida para os animais mas não há uma estação de televisão que fale sobre a dor de quem tem de regar o jardim em pleno outono. É que isto de ter jardim é muito bonito mas dá trabalho.
Começa tudo com a plantação. Se não são entendidos como eu nisto da jardinagem, têm aqui uma boa oportunidade para aprender com quem realmente sabe das coisas. Plantar pequenas porções de relva é chato e não dá frutos durante bastante tempo. Há uns anos tive obras cá em casa e parte do jardim ficou destruído. Como fui eu a plantar essa secção, ainda hoje está meio defeituosa com mais terra à vista do que devia.
Uma vez plantado, e necessário encontrar as bugigangas certas para o enfeitar. Há quem opte por sapos, pela branca de neve e os sete anões, por pedras ou outras coisas inúteis. Eu tenho candeeiros no jardim. Além de não serem donos de qualquer tipo de beleza, são completamente inúteis. Inúteis tal qual as pedras que fazem uma espécie de passeio deficiente que ninguém usa porque pisar a relva é mais agradável.
Chegada a hora de escolher as plantas e árvores para um jardim, a maioria das pessoas escolhe mal. Palmeiras são uma péssima ideia e ainda ninguém (pelo menos aqui na zona) se apercebeu disso. É que aquilo cresce. Muito. E as raízes também crescem e dão cabo de muros. É desagradável.
Mas o maior problema é a água. Animais sem comida e barragens sem água são o quê comparado com este meu problema? Só se indigna com estas coisas quem nunca perdeu horas de vida a regar o jardim. Sim, horas. E isto funciona por fases:
1. Pensamos para connosco que regar o jardim é uma óptima ideia para descontrair depois de um dia menos bom, observar a natureza e pensar um bocado;
2. Logo a seguir ligamos a mangueira e molhamo-nos todos. Lá se vai a descontracção;
3. Já todos molhados, puxamos a mangueira para o outro lado do jardim. Deixa de correr água. Olhamos para trás e vemos que a mangueira está toda enrolada. Tentamos desenrolá-la mas rapidamente percebemos que temos de voltar atrás para fazer isso manualmente;
4. Uma vez desenrolada a mangueira, reparamos que mesmo assim não corre muita água. A mangueira está rota e não há solução possível no momento;
5. Percebemos que vamos ter de trabalhar com uma mangueira aleijada e puxamos mais um bocado. Não dá para puxar mais e ainda nos falta meio jardim;
6. Começamos a fazer gestos estranhos com a mangueira e a mandar água aos soluços para a parte que nos falta regar;
7. Quando nada resulta, aceitamos a derrota, arrumamos tudo e vamos para casa a resmungar enquanto pensamos na roupa que vamos vestir depois de termos molhado a nossa.
Reza a lenda que amanhã chove. É uma lenda contada pelo IPMA portanto é de duvidar, mas espero que seja verdade porque eu já não tenho nada para vestir que não esteja encharcado.
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